segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ainda a questão da dívida (externa ou eterna?) da Grécia e de Portugal

Leitora atenta dos "Botões" enviou-me o seguinte comentário à minha "entrada" sobre a questão da diferença de tratamentos entre Portugal e a Grécia, com termos mais favoráveis para esta:

"Mas a Grécia tem melhores condições...não é caso para dizer q o "crime" compensa?Ou seja, vivamos à grande e à francesa...que depois a dívida é perdoada e/ou temos condições mais favoráveis para a pagar."

É difícil não reconhecer alguma razão no argumento da autora: parece que o "crime" [da Grécia] compensou: um sistema fiscal de pantanas, que cobra apenas uma parte do que devia cobrar, fugas significativas de capitais, benefícios para muitos cidadãos superiores à média europeia e que são um custo significativo para o Estado... e este a endividar-se no exterior (juntos dos bancos alemães e não só) para "aguentar o barco". E isto não apenas desde que a situação económica internacional se agudizou em 2007 mas desde muito antes (ver o gráfico da entrada abaixo) já que desde 1990 que a percentagem da dívida pública líquida em relação ao PIB ultrapassa os 60%.

Isto é: havia, todos o reconhecem, algum "regabofe" só possível porque a banca internacional (alemã mas não só...) iam pagando a fatura --- e cobrando os respectivos juros, claro... Mas como o país ia pagando --- mesmo que fosse dívida antiga com dívida nova... --- todos viviam felizes e contentes. Até que... booooooom!

A questão do "moral hazard" subjacente a esta situação não é nova e corresponde, grosso modo, a uma situação em que alguém (por exemplo os bancos) assume mais riscos do que aqueles que deveria assumir porque conta que, se alguma coisa correr mal, alguém há-de suportar parte dos custos resultantes da "asneira" que fez anteriormente.
Este tema esteve muito "na baila" aquando da crise asiática de 1997-98 porque se entendeu que os bancos assumiram mais riscos do que deviam ter assumido ao conceder determinados empréstimos porque acreditavam que o Governo/Banco Central do respectivo país acabaria por lhes acudir se houvesse risco de falência pois o país não podia correr o risco de uma corrida aos bancos se um deles falhasse.
Pode-se dizer que a opção do Governo português acudir ao BPN e ao BPP pode ser interpretada à luz deste conceito do "moral hazard": o risco de uma crise em todo o sistema financeiro era impensável e mais valia (valeu?!...) cobrir os prejuízos dos bancos falidos...

Voltando à questão colocada pela leitora: sendo objectivamente verdade que a Grécia tem um tratamento melhor que o de Portugal (e da Irlanda), o custo do ajustamento para os gregos vai (está a) ser muito maior do que para nós, como resulta de muitos relatos sobre a situação no país. O risco de não perdoar parte da dívida era de ela se tornar incomportável e a "maçã podre" grega acabar por se alastrar a toda a União Europeia e levar à falência do Euro.
Qual o custo disso para toda a Europa, nomeadamente para nós próprios, em Portugal? Parece que ninguém quis "pagar para ver"... Eu tenho muitas dúvidas se pagaria... Mas tenho MESMO... Infelizmente nestas coisas não dá para dar uma espreitadelazinha para ver como é e depois, eventualmente, "tirar o corpo fora" se a coisa não agradar...

Quanto à questão do perdão de parte da dívida, pode-se dizer que ela, em si mesma, corresponde à assunção de uma consequência de os bancos que emprestaram terem de pagar uma parte do custo do ajustamento do devedor porque, com "mais olhos que barriga", foram emprestando, emprestando, sem prestarem grande atenção ao enorme risco que estavam a correr ao emprestarem a um país que já tinha níveis elevadíssimos de dívida externa.
O perdão da dívida corresponde, pois, a uma situação de uma certa divisão dos custos entre credor e devedor --- quando na maioria dos casos os bancos estão (mal) habituados a serem a parte mais forte e repercutirem apenas para o devedor os custos do excesso de endividamento em que incorreram.

Enfim... é a vida!...

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