segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Agora são 21...

21 anos! Completados hoje! Há cerca de 2 horas... O quê? No sábado foi a Licenciatura, hoje foi o Doutoramento em Economia pela Universidade Técnica de Lisboa através do ISEG. De facto, foi na tarde da terça feira 17 de Dezembro de 1991 que fiz a defesa da tese de Doutoramento, tese essa que versa sobre a política agrária do Moçambique independente, entre 1975 e 1985. Era então a única tese de Economia escrita por um português sobre o período pós-colonial de um dos novos países africanos de língua oficial portuguesa. Creio, aliás, que continua a ser, nesta área, uma das poucas sobre o pós-independência das nossas ex-colónias.

O curioso é que não era esse o meu tema inicial. Quando se colocou a questão de fazer o doutoramento escolhi o estudo da evolução da China antes das reformas que se sucederam à morte de Mao Tse Tung e que tiveram lugar a partir de 1978.
Para meu orientador convidei a "alma mater" do ISEG e então meu colega de gabinete, o Prof. Francisco Pereira de Moura. O diálogo que então se estabeleceu ficou para sempre na minha memória...

De facto, o Prof. agradeceu o convite mas declinou-o de imediato com dois argumentos perfeitamente razoáveis: não era especialista em desenvolvimento e não era especialista na China. Não tinha, pois e segundo ele, as qualificações necessárias para ser meu orientador.
De qualquer forma foi adiantando conversa com uma pergunta que fez mudar a minha vida... :-). Quando lhe disse que queria fazer a tese sobre a China perguntou-me (adiantando logo um comentário...): "Sobre a China?!... Huuummm! Isso significa que vai primeiro estudar chinês, não vai?!...". Fiquei siderado... Nunca tal coisa me tinha passado pela cabeça... E foi então, enquanto eu "encaixava" o "murro no estômago" que tinha acabado de receber, que veio o comentário dele e que define bem a seriedade do trabalho intelectual que fazia: "Sim... Porque se não estudar e souber ler os documentos em chinês você vai fazer uma tese sobre aquilo que os americanos, os ingleses, os franceses e outros que publiquem em inglês ou francês dizem sobre a China e não necessariamente uma tese sobre a China!..."
Como calculam, nesta altura já eu estava todo esticadinho no tapete... :-)

Mas o Prof. não dava "ponto sem nó"... E foi então que surgiu a sua proposta/desafio que me fez alterar o projecto de tese e, em parte, a minha vida (académica) futura: "Se está interessado em estudar questões de desenvolvimento em países 'socialistas' porque não pega no caso de Moçambique e tenta, nomeadamente, fazer alguma comparação entre as "aldeias comunais" de Moçambique com as aldeias "ujamaa" da Tanzânia e as "comunas" da China Popular?!..."

E se bem [ele] o disse, melhor [eu] o fiz.... Alterei o projecto de tese e dediquei-me a estudar Moçambique e a Tanzânia.
Quanto a esta cheguei a ser o grande especialista português sobre o desenvolvimento do país... Rsss. "Grande" porque único...  :-)

Obtida uma bolsa de investigação da Fundação Gulbenkian, lá fui eu a caminho de África, onde nunca tinha estado e a que nada me ligava, para uma estada de 3 meses em cada um dos países a fim de recolher material para a tese já quem Portugal não havia nada. O que tinha obtido até então sobre a Tanzânia tinha sido conseguido numa permanência no Institute of Development Studies (IDS) de Brighton, na Inglaterra, ainda hoje uma das principais escolas de referência nos estudos de desenvolvimento.

Chegado a Maputo comecei a minha actividade de investigador como investigador associado do Centro de Estudos Africanos (CEA) da Universidade Eduardo Mondlane. O presidente era o saudoso Aquino de Bragança --- quantas e quantas horas passámos à conversa sobre o país andando de um lado para o outro no seu Volkswagen Brasília amarelo... --- mas a directora de investigação era a Ruth First, que era "apenas" a mulher do Joe Slovo, o secretário geral do partido comunista sul africano, então em plena luta contra o apartheid.
Para ela eu tinha dois defeitos fundamentais: era português (logo, "colonialista") e não tinha o cartão de militante do PC português... Resultado: limitou o meu acesso a muitos documentos importantes da biblioteca do CEA. Ainda bem... :-) Foi assim que fui à procura de muita outra informação, muita dela primária, e não de interpretações da realidade feitas por outros... que ainda por cima tinham, pensava então e penso ainda hoje, uma visão distorcida da realidade moçambicana.

E foi assim que iniciei a recolha de material para a minha tese. Até hoje é sempre com um enorme prazer que volto ao país.

Quanto à Tanzânia, passado pouco tempo de estar em Moçambique e dado o manancial de informação que recolhi e as dificuldades em obter autorização para fazer investigação "de campo" na Tanzânia, acabei por desistir de a incluir na minha tese. Mas como o bilhete que eu levava de Lisboa incluia a viagem por Dar-es-Salaam, acabei por estar nesta cidade uma semana.

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