sábado, 10 de julho de 2010

Mensagem de despedida aos meus alunos deste ano

Mensagem de despedida que enviei aos meus alunos:

"Chegado ao fim mais um ano lectivo, que no meu caso corresponde ao meu último como docente do ISEG por me ir reformar ao fim de quase 40 anos de docente da "casa", quero aproveitar esta oportunidade para vos desejar felicidades pessoais (principalmente) e profissionais (também, pois claro).

Quando os vossos colegas de outros anos me pediam para escrever uma dedicatória nas suas fitas de finalistas, escrevia invariavelmente o mesmo que vou "escrever" agora nas vossas: "E principalmente não se esqueçam de que a Economia foi feita para o Homem e não o Homem para a Economia". Ele e o seu bem-estar são e deverão ser sempre a "medida" de todas as coisas...

... e façam o favor de serem felizes!

Até qualquer dia, algures por esse mundo fora!

Um abraço do

António M. de Almeida Serra"

sexta-feira, 9 de julho de 2010

8 de Julho de 2010, 23h23m

Esta foi a data/hora em que terminei de lançar as notas da disciplina de Macroeconomia II do ISEG, de que fui o responsável este ano.

Com este acto terminei o meu serviço este ano e como ele foi, espero, o meu último ano como docente do ISEG, o lançamento das notas foi também o meu último acto como docente da que foi (e vai continuar a ser...) a minha segunda casa durante quase 40 anos.

Não estou ainda reformado --- isso será só lá para algures durante o primeiro trimestre de 2011 --- mas como acumulei horas de docência a mais durante os últimos anos, pedi dispensa de dar aulas no primeiro semestre lectivo do próximo ano lectivo.

Angústia existencial neste momento do tipo da angústia do guarda-redes antes do penalti? Nenhuma. Pelo menos por enquanto. Tenho tanta coisa para fazer, nomeadamente na área da investigação sobre as economias asiáticas --- particularmente sobre Timor --- e dos meus hobbies --- fotografia, genealogia, escrita --- que dificilmente terei tempo para me aborrecer ou sentir a falta do contacto directo com os alunos.

Na verdade, a obrigação de fazer avaliações --- "paletes" delas!... ---, coisa que sempre detestei, foi-se tornando cada vez mais penosa ao longo do tempo e nos últimos anos ainda mais. Nem que seja só por isso, bendigo este momento e o acabar as minhas actividades docentes...

Quanto ao dar as aulas propriamente ditas, ao contacto com os alunos, claro que vou sentir a falta mas há outras maneiras de matar o vício de ensinar e de satisfazer o genes (afinal eu faço parte da terceira geração de professores na família): dar umas conferências, dar aulas na Universidade da Terceira idade, fazer palestras aqui e acoli.
Ainda sobre este aspecto, confesso que os últimos anos foram de algum "esmorecimento" do gosto que sempre tive nesse contacto, "esmorecimento" esse, no entanto, que sei que não se reflectiu na qualidade do meu trabalho docente, nomeadamente o algum "teatro" que sempre usei.
Só que os alunos de hoje não são como os de ontem... Ou melhor: há hoje nas Universidades --- e propositadamente escrevo a palavra com um "U" grande... --- demasiados alunos que não deviam estar lá... Não por falta de capacidades intelectuais mas sim por falta de verdadeiro interesse no que estão a fazer só porque os pais pagam as propinas e não há empregos alternativos... E bastam estes (talvez 10% ou menos) para estragar tudo, nomeadamente através da permanente conversa nas salas de aula. Estas, para eles, são alternativas aos cafés, nomeadamente no início dos semestres... Felizmente que depois se cansam de serem incomodados na sua conversa por aquele "chato" (o docente) que nunca se cala e está sempre a interromper a conversa pregando-lhes sermões sobre o facto de estarem a prejudicar os colegas que pretendem, de facto, aprender alguma coisa...

Ficam duas outras tarefas da actividade docente: a preparação das aulas e a investigação. Mas afinal não são elas simplesmente duas modalidades da mesma actividade, a procura incessante de novos conhecimentos, a "bisbilhotice" científica? Ah, mas essa não vai parar, não!.. Vou, até, passar agora a ter mais tempo para ela, que para mim era simultaneamente uma necessidade profissional e um hobby! Que bom poder juntar as duas coisas!... E eu tive a felicidade de as juntar.

Por fim mas não por último, ficarei com mais tempo livre para fazer outras actividades profissionais, nomeadamente alguma consultoria. Foram várias as vezes que, ao longos dos anos, tive de recusar convites para actividades deste tipo que, se aceites, me teriam levado, além de Timor, a São Tomé e a Moçambique, pelo menos.
Esta é uma actividade de que gost também e que sempre vi como um complemento da actividade docente e de investigação.
De facto, sempre fui mais um homem da "prática" do que da "teoria". Assim, como ensinar economia africana sem ter posto os pés em África, como ensinar economia asiática sem andar com as "mãos na massa"?
Uma das fraquezas do sistema de ensino universitário em Portugal é de haver menos pessoas que o desejável com experiência de terreno a ensinar. Há muitas áreas em que o ensino acaba por ser excessivamente livresco, sem o "sal" da "ciência de experiência feita", dessa experiência que o Duarte dizia ser a "madre de todalas cousas"...

PS - não digo os apelidos dele para não julgarem que me refiro a um conhecido político e comentarista televisivo do PSD mas que também já foi a alma mater do Partido Comunista de Portugal - Marxista-Leninista (PCP-ML)