terça-feira, 13 de novembro de 2012

A austeridade: sim, ma non troppo

Todas as conversas a propósito da actual crise económica acabam por ir parar à  "marvada" austeridade.
Face à situação das contas públicas e aos níveis de dívida externa que atingimos alguma austeridade --- leia-se, principalmente, "maior racionalidade nos gastos públicos e individuais" ... --- é absolutamente inevitável. Nem que seja porque o dinheiro "fácil" a que nos habituámos --- nos habituaram... --- desapareceu e agora é bem mais "difícil".
Mas a austeridade quase pela austeridade, a um nível quase de paranóia a que foi "elevada" pelo actual governo e, principalmente, pelo coelho que dá passos e pelo Gasparzinho, é um disparate.

Olhemos para outras crises, noutros países que também atravessaram dificuldades --- ainda que não necessariamente tão profundas como a que temos E PARA A QUAL ESTAMOS A SER EMPURRADOS POR QUEM DEVERIA TER COMO MISSÃO TIRAR-NOS DELA.

Lembro, por exemplo, o caso da Indonésia de há alguns, poucos, anos. Atingida por uma crise essencialmente internacional, virou-se principalmente para o mercado interno, apoiando a procura nacional. Foi ela que serviu de "almofada" à crise. A China e, mesmo, o Japão fizeram o mesmo em momentos diferentes.
Isto é: a lógica do actual Governo é, basicamente, a seguinte: o país tem vivido acima das suas possibilidades e é necessário "puxar" as pessoas para baixo, para o nível que eles consideram sustentável e que não será muito diferente do que se vive hoje em alguns países do Leste europeu. Se são esses os nossos principais competidores no espaço europeu, então "desçamos" ao seu nível para, através de um forte abaixamento dos custos (=salários, principalmente, já que não podemos desvalorizar a moeda), podermos competir com eles quer em capacidade de exportar quer em capacidade de captar novos (grandes) investimentos externos (que ajudem, eles próprios, a aumentar as exportações).

Este raciocínio tem um "calcanhar de Aquiles": o de, a médio/longo prazo mas também a curto, nos colocar cada vez mais dependentes da evolução da conjuntura económica internacional --- e, percebe-se agora, da força dos sindicatos dos estivadores...

Aliás, é isso que se vai passar a curto prazo: já é certo e sabido que o crescimento da Espanha e da Alemanha, dois dos nossos principais clientes, vai ser em 2013 bem mais baixo do que se previa inicialmente. Isto significa que os esforços que se estão a fazer para aumentar a nossa competitividade externa e, com ela, as exportações, podem "bater com os burrinhos na água". Creio, mesmo, que será o mais certo...

Ora é nestas ocasiões que a procura interna desempenha um papel fundamental para "amortecer" a pancada da queda. Só que estão a tirar quase toda a sumaúma de dentro da almofada, correndo o risco de batermos com os costados no chão com toda a força....

Por isso esta estratégia me parece errada, inapropriada aos tempos que correm. Nunca desejei tanto enganar-me!

Sem comentários:

Enviar um comentário