domingo, 10 de junho de 2012

"10 de Junho"...

Comemora-se hoje o "Dia de Portugal". Estou em Timor Leste e a nossa embaixada aqui, que ficou "tesa" com a visita do PR Cavaco Silva, limitou-se a comemorar a data com a deposição de uma coroa de flores no busto do Engº Canto Resende. Este desempenhou as funções de administrador de Dili aquando da invasão indonésia e, com outros, foi feito prisioneiro e enviado para um campo de concentração da ilha vizinha de Alor, tendo vindo a falecer em resultado dos maus tratos recebidos.
Mais tarde foi possível transladar os seus restos mortais para Dili, onde está sepultado numa campa com o escudo português mas de onde desapareceu há muito a placa identificadora.

Na Avª de Portugal, em Dili, existe um busto dele e foi aí que foi hoje colocada uma coroa de flores pelo nosso embaixador acompanhado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor Leste, o meu amigo Zacarias da Costa.

Pela minha parte preferi homenagear outros portugueses: os que vieram para aqui escorraçados de Portugal pelo regime de Salazar, principalmente nos anos 30. Eles foram "deportados sociais" e "deportados políticos". Destes o que veio a ser mais conhecido foi Manuel Carrascalão, que "fundou" a família Carrascalão aqui ao casar-se com uma senhora da "família real" de Venilale, perto de Baucau. Mas houve mais, muitos mais, nomeadamente da família Horta, do ex-Presidente Ramos Horta.
Portugal já devia ter feito acto de contrição em relação a esta gente que "atirou" para os confins do "Império". Não o fez mas eu decidi faze-lo à minha escala pequenina colocando umas simples flores na campa de um dos "deportados sociais" enterrados no cemitério de Santa Cruz, numa campa abandonada há anos e anos... Fiquei satisfeito comigo próprio... :-)


Mas voltemos ao Engº Canto Resende. Quis o acaso que o meu pai falecesse enquanto eu estava em Dili, há quase dez anos, a completar em Novembro próximo. Lembro-me de ter acompanhado o funeral e a descida do caixão à terra pelo telefone, em conversa com os meus irmãos. Foi o mais perto que consegui estar... Estava então numa reunião nos escritórios da Fundação Oriente mas como não era o "artista principal" da mesma consegui escapulir-me de vez em quando e acompanhar o funeral. Só no final é que os meus acompanhantes souberam o que se estava a passar...
Como não estive presente decidi ir no dia seguinte ao Cemitério de Santa Cruz e depositar flores numa campa anónima como se ela fosse a do(s) meu(s) pai(s) (a minha mãe tinha partido algum tempo antes). Quando entrei dei com uma campa com o escudo português e sem identificação. "Vai ser esta mesmo!..." E foi. A partir de então passo por lá de vez em quando para colocar flores, como se os meus pais tivessem duas "moradas": uma em Dili, "virtual", e outra em Setúbal, real.
Só uns anos mais tarde, talvez uns 5-6 anos, é que, de repente e ao ler um livro sobre património português construído  em Timor escrito pelo meu amigo Rui Fonseca é que me apercebi que a campa anónima não era mais nem menos do que... a campa do Engº Canto Resende! Coincidências...

domingo, 3 de junho de 2012

Ai que vergonha!... :-)

Pois é! Foi há quase um ano que disse que ía procurar "alimentar" mais regularmente este meu blogue. Porém, outros afazeres e outros blogues tiraram-me pachorra e material para escrever aqui.
Será que me vou "corrigir" daqui para a frente? Vou tentar... :-)

Hoje ficam aqui apenas duas pequenas notas: uma sobre o meu sonho de hoje e outra sobre a realidade... Também de hoje...
A segunda é a mais fácil e por isso vou começar por ela: farto de estar "encafuado" em Dili, hoje meti-me à estrada e fui visitar, mais uma vez, o Vô Serra, em Maubara. Antes, porém e porque acordei cedo, fui ver o nascer do sol na praia em frente do aparthotel onde estou a viver actualmente aqui. O resultado? Mais umas fotos, claro. Nomeadamente esta imediatamente antes do sol nascer (loro sa'e)...



... e esta logo depois, com uma navio e o Cristo Rei na direita:


Depois do matabicho, meti-me então à estrada a caminho de Maubara ou, melhor, de Vatuvou, a 730 m de altitude (passa-se dos 0mts aos 730mts em cerca de 7 kms...).
O Vô está "rijo e fino", como de costume, e provavelmente para me agradar estava vestido com uma das camisetas que lhe ofereci já este ano:


Conversa para aqui, conversa para acoli, o tempo foi passando e lembrei-me de lhe medir a tensão com o aparelho apropriado que lhe dei no ano passado. 142-84; nada mau para um homem de 82 anos. Que, nomeadamente de manhã, faz o seu exercício habitual: calcorrear as vizinhanças à procura de cabritos e leitões para comprar para depois vender ao Hotel Timor, em Dili. :-)
Uma actividade que ele começou há uns 3 anos quando levei o gerente do hotel a visitá-lo... É fantástico como aos 78-79 anos inciou, com sucesso, uma vida de "intermediário" entre o Hotel e ele próprio e outros produtores locais, contribuindo assim para a dinamização da economia das proximidades. Ai se houvesse mais "Vô Serra" espalhados pelas montanhas de Timor Leste! Que bom seria!...

De regresso a Dili, parei nos quiosques de venda de artesanato local, sendo que as peças mais conhecidas são as de verga colorida. Mas "deu zebra": comprei uns brincos giros mas a mulher deu-mos num saco roto e... fiquei sem eles... Só quando cheguei ao hotel, em Dili, me apercebi disso... Ai que raiva!... LOL

E vamos ao sonho: vá-se lá saber porquê, sonhei que estava a ver a passagem de tropas do Regimento de Infantaria 11, de Setúbal, frente à minha casa (dos meus pais...) no Bairro de Nª Srª da Conceição, em Setúbal. Isto passou-se algures nos anos 50, quando, ainda no rescaldo da II Grande Guerra e em ambiente de "guerra fria", se faziam exercícios militares às portas da cidade, lá para os lados da "Bela Vista", onde até havia umas "casamatas" que deveriam abrigar peças de artilharia de costa e antiaéreas em caso de necessidade... Lembram-se, manos?
Com o Cor Carvalho Fernandes à frente, a cavalo, e a tropa a pé e algumas mulas a puxarem os carros de abastecimento de água... Normalmente isto passava-se ao princípio da noite, lá para as 9-10h...
Mas porque é que eu fui sonhar com isto?!... Sei lá!...
Assim como, associado a todo este ambiente, me fui lembrar dos exercícios de "Defesa Civil do Território" (e do famoso livro verde da Legião Portuguesa com instruções), nomeadamente os de ocultação de luzes à noite, com os famosos panos pretos (de flanela, não era?!...) pendurados nas janelas de todos os quartos... :-). E do famoso pacote de açucar de uns 10kgs que os meus pais guardaram anos a fio sem lhe tocar não fosse o diabo tece-las e haver alguma guerra e escassez de alimentos, Desconfio que esse pacote só foi consumido uns 15 ou 20 anos depois de ter "nascido"...

Ai esta cabecinha pensadora!... :-)